Ritual de Tortura Matinal

Acordar de madrugada, oito horas da manhã, para começar um ritual de tortura humana e o pior de tudo, aceito pela sociedade, é somente para os fortes. A manicure vem aqui em casa sempre nesses horários bons. Hoje por uma questão de higiene, não de estética, claro, fui fazer as unhas. As unhas do pé pediam, gritavam, imploravam socorro, juro. 

Me sentei no banquinho e logo vi que a manicure da minha mãe é moderna, metade dos seus instrumentos de trabalho são automatizados. Achei bacana e imaginei que com isso nada de dor eu sentiria. Tem um pequeno detalhe que eu não comentei, tenho a unha dos dois dedões encravada. E começamos o ritual de limpeza. Lava o pé, passa creme, começa a palitação, puxa carne daqui, carne dali, olhar para as minhas reações de dor para quê né? Após um tempo de trabalho nos outros dedos, eis que chega o dedão encravado. Depois de uma luta com o alicate versus dedo, o alicate venceu e o meu dedo, coitado, só sangrou e muito. Mas não tinha com o que me preocupar, ela me disse que logo ia parar de sangrar e de doer, ela tinha a solução. Coisa boa, sempre imaginei que ela teria a solução. Ela pegou um palito, colocou um algodão, passou na acetona e o resto vocês imaginam. Nem é exagero, eu quase xinguei ela. Mas ela tinha outra solução, ia passar a base que dai pararia de sair sangue e de doer. Claro, como não pensou nisso antes? Após passar a base e o sangue não estancar, ela vai até sua maletinha e tira lá do fundo um remédio para parar de sangrar. Eu fiquei me perguntando o motivo de ela não ter usado o remédio antes. Seria economia e ela só usou porque apavorou com a quantidade de sangue que saia?  

Isso me lembrou um episódio da minha vida. Há muito tempo atrás eu fui inventar de ir num salão de beleza para fazer luzes no cabelo. Como eu já disse, foi há muito tempo atrás, naquela época era modinha, e foi antes disso ser moda nos morros e nas favelas, só pra constar. Dói muito e dói cada mecha que ela puxa com aquela fake agulha de crochê. Após meia hora de tortura, achei que estaria enfim livre de tudo aquilo, mas não, ela tirou um secador do mal da gaveta e começou a "secar" meu cabelo. Por momentos pensei que ela queria tirar fora meus cabelos. Eu sei que nós homens somos mais fracos para essas coisas, mas eu não aguentaria passar por esses rituais de tortura várias vezes na vida. Parabéns a vocês mulheres pela força de vontade e determinação em ficarem mais belas, parabéns suas masoquistas. 

Voltando as unhas, depois da parte tensa do pé, hora de cortar, lixar, limpar as unhas da mão. Foi tranqüilo essa parte, até porque ainda sentia dor no meu dedão, aliás, ainda sinto dor no meu dedão. Tudo isso em nome da higiene e dos bons costumes. Mesmo depois desse ritual de tortura estou feliz por dois motivos, agora fazer as unhas do pé só daqui um mês e outro motivo é que ganhei uma agradável massagem no pé e nas mãos de brinde. Acredito que foi uma forma de ser recompensado depois dessa tortura toda.