Querer, poder, fracassar, conseguir.

“A maioria das pessoas fracassa em seus sonhos não por falta de capacidade, mas por falta de compromisso com o que querem”.  Zig Ziglar.  


O que realmente queremos? Esta é uma pergunta que muitas vezes é mais difícil de ser respondida do que parece.Quantos de nós já não tivemos a sensação de que queríamos com ardor alguma coisa e ao possuirmos o que tanto queríamos, o desejo se esvai e a própria coisa obtida perde seu interesse. Claro que nem sempre isto acontece, mas por qual motivo será que vemos pessoas lutarem a vida inteira para obter boa posição econômica, ter uma vida afetiva estável, muitos amigos, e, quando obtém tudo isso...entra em processo de depressão profunda? O que há de errado nestes casos? 

Tentarei abaixo desenvolver alguma(s) reflexões a respeito deste tema, mas quero dizer que antes de qualquer coisa, não tenho a pretensão de mostrar soluções mágicas para qualquer das enormes aflições humanas... Em primeiro lugar, precisamos saber se temos uma ideia clara do funcionamento de nossa vontade e de nosso desejo. E, sem a menor sombra de dúvida a resposta é que muitas vezes não temos este conhecimento. Geralmente pensamos que o desejo comanda a vontade, e empenhamos todos os nossos esforços na realização de desejos que surgem, e em certos casos se tornam tão fortes que rompem a fronteira entre desejo e necessidade, chegando a consumir o portador de tais desejos em enorme ansiedade e sofrimento para que este desejo seja satisfeito. Por vezes, desejos como: "ser rico" comandam nossos esforços de modo que existem pessoa que abdicam de sua juventude, do convívio com a família, do lazer e do próprio esforço em jornadas de trabalho estafantes e repetitivas. Eis o desejo comandando a vontade, fazendo com que o indivíduo suporte enormes desgastes até ser satisfeito. Mas eis que o desejo é algo muito volúvel e mutável, e muitas vezes no momento mesmo em que é satisfeito, temos a sensação de que nossa conquista não basta. Nada mais natural, o desejo somente existe enquanto expressão da carência de algo, nos impelindo de modo a direcionarmos a nossa vontade rumo ao que nos parece o melhor alvo. 

Mas será que o desejo sempre comanda a vontade?  Nem sempre se pode dizer que sim. Vejamos os casos em que o sujeito suprime seus desejos de modo a aumentar sua força de vontade cada vez mais (por exemplo: os monges budistas que procuram aplacar os desejos mediante meditação). Por qual motivo alguns conseguem disciplinar sua vontade e reduzir os sofrimentos oriundos do desejo e outros não? A resposta é simples, mas de difícil execução. O que queremos na verdade não é satisfazer determinados desejos menores que surgem ligados às coisas que possuímos. O que queremos mesmo é ter a sensação de que estamos permanentemente em busca de um objetivo. Só que ao vermos de forma equivocada este objetivo, uma vez alcançada a meta aparente, o desejo some para que outra busca se inicie. Na realidade, pensamos que estamos atingindo uma finalidade mas na realidade o que estamos sempre fazendo é nos colocando em movimento rumo a alguma coisa, e esta é nossa vontade profunda. Claro está que o movimento de busca de algo fora de nós mesmos está colocado quase como uma programação em nós, mas por outro lado, será que o que buscamos em nossas vidas em casos como os que mencionei (o da riqueza, por exemplo) é o que realmente desejamos? Quantas vezes almejamos ser felizes e não temos a menor ideia do que possa ser a felicidade, e se temos alguma ideia, será que ela se sustenta muito tempo se for questionada (por exemplo: serei eu feliz se tiver um carro?) Estas interrogações nos levam mais fundo do que podemos imaginar, indo a uma dimensão abissal dentro de nós mesmos. 


Em minha opinião, o que deve ser buscado não são as coisas externas a nós (o amor de alguém que gostemos, a carreira, o dinheiro), pois todos estes fatores, além de não dependerem diretamente de nós, são por excelência mutáveis (por exemplo: quantas fortunas em um segundo não se reduziram a nada?), mas sim, o desenvolvimento infinito de nós mesmos: de nosso caráter, nossa inteligência e nossa consciência moral. Sem nenhuma sombra de dúvida é possível indicar esta sensação contínua de bem-estar relativa ao desenvolvimento de nós mesmos como um elemento que nos coloca pelo menos a caminho da felicidade, pois os fatores ligados ao desenvolvimento intrapessoal são estáveis, duráveis, e permanecem com a pessoa até sua morte. Por este motivo acredito que invertendo o caminho da busca (desenvolvimento interno ao invés de elementos externos) a felicidade pode ser vivida de forma muito mais plena, de modo que as conquistas obtidas não se perderão e o desejo ficará sob controle sem nos afetar e nos trazer sofrimentos. 

Comentários